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Uma coisa que achei que nunca fosse acontecer, está acontecendo... Talvez por saber que estou cada vez mais pertinho de conquistar minha vaga no serviço público, ou seja, está cada vez mais próximo de acontecer pra valer! Tenho 25 anos, sempre morei com meu pais e meu irmão. Só que sempre quis ter minha independência financeira e também morar sozinha, pois penso que assim amadureceria em vários sentidos. Mas agora, diferente do que imaginei, estou com medo! Medo de ficar longe deles. Medo de ir pra uma cidadezinha nos cafundós, sozinha, a 800km daqui. Medo de acontecer algo com eles e eu não estar por perto” (
Juliana)
Esse trecho de um email enviado para o blog revela algo que passa pela cabeça de poucos concurseiros antes de alcançarem sua tão sonhada nomeação, mas que depois dela se transformam num monstro assustador que lhes tira o sono e o sossego, o fato de que muitas vezes a posse em cargo público requer mudar de cidade.
Uma coisa é estudar tendo como única meta e objetivo se aprovador em concurso público. Damos o sangue para isso, estudamos feito condenados, nos preocupamos, sofremos, corremos atrás, devoramos dezenas, centenas de livros e apostilas, milhares e milhares de páginas de texto e exercícios de matérias diversas, a maioria das quais nunca tivemos contato antes. Daí vem a grande recompensa, a nomeação para um cargo público. Choramos de alegria, pulamos, saltamos, gritamos. Tudo é festa, tudo é comemoração. Então depois do porre da comemoração a ficha cai ... tomar posse de tal cargo significa, muitas vezes, termos de arrumar as trouxas e nos mudarmos para uma outra cidade, muitas vezes distante dezenas, centenas ou milhares de quilômetros. Daí, como disse Drummond em sua poesia ... “
E agora, José?”.
Uma coisa é prestar concurso público para ser empossado em um cargo a ser exercido na própria cidade onde o concurseiro reside, daí a mudança na vida é somente para melhor, afinal ele continua na cidade que conhece, próximo da família e amigos. Agora, outra coisa completamente diferente é ser empossado em uma cidade diferente e distante, um mundo completamente novo, com gente diferente, costumes diferentes.
Se a primeira possibilidade é considerada perfeita pela maioria dos concurseiros, a segunda se mostra completamente aterradora, assustadora, paralisante!
Para concurseiros mais velhos que já tiveram suas próprias casas em outras cidades, voltar para a cidade natal para a casa dos pais ou de familiares isso sim é aterrador, sendo o sonho dourado ser empossado logo para poder recuperar a vida própria, ter novamente sua própria casa, retomar sua vida que está em pause ... digo isso com conhecimento de causa. Para os concurseiros mais novos que nunca saíram de casa, como nossa amiga Juliana que enviou o email que abre esse artigo, tudo isso é, sim, de gelar o sangue, sei como é, lembro-me como é, passei por isso quando fui aprovado no vestibular e tive de sair do interior de Minas Gerais para viver na metrópole paulistana.
Vejamos alguns pontos importantes dessa questão que aterroriza a Juliana e tantos outros concurseiros que ainda não saíram do ninho.
Amigos e parentes que ficam para trás – Vejam bem, eles podem ficar para trás, mas não significa que morreram. O contato entre vocês será menor e mais espaçado, mas somente deixa de existir se você quiser. E quanto a acontecer alguma coisa de ruim, se for para acontecer acontecerão esteja você a um ou mil quilômetros de distância delas.
O coração que fica – Aqui a coisa pode ser simples ou complicada. Quando se trata de noivado ou casamento, a coisa rola mais tranqüila, afinal de contas, os lanços do relacionamento são mais fortes. Agora, quando se trata de namoro, somente se o relacionamento for baseado na confiança e na cumplicidade para a distância não ser um problema. Pense da seguinte forma, se a outra pessoa não quiser aceitar que você está partindo para buscar uma vida melhor para ambos, talvez o relacionamento não tenha mesmo muito futuro, triste, mas real.
Um estranho num mundo estranho – Para quem nunca viveu uma situação desse tipo, a possibilidade de ser um total estranho num mundo totalmente estranho e diferente parece assustadora, mas dependendo do modo como a pessoa encara a situação, pode ser tanto uma grande aventura quanto uma grande dor de cabeça. Ponha na sua cabeça o seguinte, encare a situação como uma das maiores aventuras da sua vida, tenha a mente aberta, seja amigável, vá alegremente para sua nova morada como quem vai para um grande parque de diversões, então tudo dará certo!
Lidando com a solidão – É interessante como a solidão é o principal medo dos concurseiros que estão para sair do ninho. Isso não deve ser uma preocupação, afinal de contas, é muito mais difícil lidar com o que ao mesmo tempo desconhecemos e tememos, pois aumentamos a dimensão do problema. Solidão é combatida com novas amizades e aproveitando a nova vida como servidor público.
Agora, gente, se vocês nunca pararam para pensar nessa questão, é muito importante fazer isso com muita calma e seriedade o quanto antes, para evitar que vocês passem em um concurso público, sejam nomeados e só então descubram que não estão preparados ou mesmo não querem abandonar o ninho para descobrir novas terras, daí terão de amargar a situação de vencer a guerra, mas não levar o prêmio!
Há, também, outras questões muito importantes relativas a essa questão de ser nomeado para exercício em outra cidade que poucos concurseiros levam em consideração antes de efetuarem sua inscrição no concurso. Vejamos.
Uma dessas questões, e muito importante, tem haver com a relação “remuneração x custo de vida”. Conheço alguns concurseiros que após a felicidade da nomeação levaram um banho de água fria ao fazerem as contas e descobrirem que a remuneração que receberiam mal daria para pagar as contas de viver sozinho na cidade de exercício. Viver sozinho implica em muitos gastos, com aluguel, alimentação, móveis para a nova casa, água, energia e tudo o mais. Se prestar concursos públicos tem como principal motivação melhorar de vida, ter grana para consumir e tal, acaba sendo frustrante descobrir que no final do mês mal sobram uns trocados no bolso!
Por último, mas não menos importante, há a questão do “aprender a se virar sozinho” que vem com a necessidade de mudança para outra cidade para assumir um cargo público. Acho impressionante como tem gente que não sabe montar e manter uma casa, cuidar das próprias finanças, manter a saúde e uma boa alimentação. Lembre-se que sair de casa implica em não ter mais os pais e/ou empregada para cuidar da roupa suja, fazer comida, enfim, cuidar de tudo. Então, se você está prestando concursos para outras cidades e não sabe fazer nada disso, aproveite agora para aprender a fazer alguma coisa, porque depois será tarde demais e pode ter certeza de que contratar gente para fazer tudo isso para você custará muito caro.
Resumo da ópera – Ter sua própria casa, cuidar da sua própria vida sem interferência, se independente, tudo isso é muito bom, podem acreditar. Quem teve de abrir mão temporariamente disso tudo como eu anseia por ter de volta o que se tornou tão importante, quem nunca teve pode ansiar por isso porque é, realmente, muito bom. Se você sente um frio na barriga quando pensa na possibilidade cada vez mais real de ter de abandonar o ninho e iniciar sozinho uma nova vida, assim como a Juliana, digo somente uma coisa ... é melhor que montanha russa!Vá com fé porque depois você não vai mais querer nada diferente.
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