É até engraçado como na guerra dos concursos públicos muitos concurseiros são vitimados por tiros que eles mesmo disparam. Sim, você leu certo. Há muitos concurseiros que são vítimas das próprias escolhas. Melhor explicar com um exemplo prático.
Essa semana um amigo concurseiro recebeu uma ótima notícia que ele esperava há um bom tempo. Saiu sua nomeação para um cargo no Judiciário para um estado da região Centro-Oeste. O cara tinha até desistido de ser chamado nesse concurso, mas depois de mais de um ano, chegou sua vez.
Felicidade geral, comemoração, festa ... só no primeiro momento. Agora o cara está amargando a maior dúvida quanto a pedir a conta de sua vida por aqui e recomeçar a vida a mais de dois mil quilômetros do lugar onde ele nasceu, cresceu e viveu por mais de três décadas.
Claro que esse amigo não pensou que viveria esse drama ao invés da alegria da vitória quando se inscreveu nesse concurso. “
Naquele momento tudo era muito claro para mim. Eu estudaria, passaria, arrumaria as malas e iria feliz da vida assumir o cargo, sem mágoas, sem dúvidas, sem sofrimento. Mas não é isso que está acontecendo”.
A mesma coisa acontece com muitos concurseiros. Quando toma conhecimento de um concurso, o cara fica alegre e resolve encarar a luta. Nesse momento a perspectiva de ser aprovado e empossado no cargo em local distante é dourada, linda, bem vinda. Daí o cara começa a estudar e enquanto estuda sonha com a vaga. O cara faz prova pedindo a Deus para ser aprovado. Depois fica ansioso aguardando a nomeação, sonhando com o dia em que vai juntar as malas e partir de mudança para a vida nova. Até aí tudo é muito bonito e fácil de aceitar porque não é concreto, é ainda um objetivo abstrato.
O bicho pega quando o sonho abstrato da posse torna-se concreto com o ato oficial da nomeação do concurseiro. Nesse momento, enquanto para muitos concurseiros é hora de comemorar e arrumar as trouxas, para outros é hora de encarar a fria e cruel necessidade de cortar o cordão umbilical, abandonar o conforto da comodidade, e encarar a estrada, uma nova cidade, uma nova casa, algo aterrorizante.
Por isso já disse várias vezes e repito, precisamos tomar muito cuidado com os concursos nos quais nos inscrevemos e para os quais estudamos com seriedade justamente por conta disso. Se você não se sente confortável com a idéia de ter de abandonar sua família, amigos, cidade, casa para tomar posse em um lugar distante, onde por algum tempo você será um estranho numa terra estranha, então talvez prestar concursos para esses lugar não seja a melhor estratégia.
Desses concurseiros que têm receio de abandonar o ninho, muitos encaram o desafio e vão embora tentar a sorte, mas muitos preferem não arriscar e para esses sobra apenas a mágoa de não ter tido coragem, disposição, ou seja, lá o que for para agarrar a chance de mudança que a vida lhes deu.
Esse amigo está vivendo um momento duro. De um lado há toda a pressão para ele assumir o cargo, pressão dele mesmo, pressão da família, pressão dos amigos, pressão da falta de grana e tudo o mais. De outro lado há toda a pressão para ele não assumir o cargo, pressão dele mesmo, pressão da família, pressão dos amigos, pressão da falta de grana e tudo o mais. O cara simplesmente não sabe o que fazer e tem poucos dias para se decidir, já que semana que vem ele tem de apresentar todos os documentos e passar pelo exame médio anterior à posse.
Resumo da ópera – Se você desconfia que poderá enfrentar o mesmo drama que esse meu amigo concurseiro está enfrentando agora, melhor parar e meditar com muito cuidado sobre o assunto, pois pior que não passar em concurso público, é passar e não tomar posse do cargo por conta de problemas não analisados quando deviam como esse.
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