Vive La Résistance!

Se tem algo que não gosto é de grupos de estudo, que acho tão inúteis quanto reuniões de negócio. Ambos costumam ser a mesma coisa, o encontro de um punhado de gente com mais animação que disposição para fazer alguma coisa produtiva, que por algum motivo logo passam a discutir assuntos sem importância do tipo “o sexo dos anjos” e que, no final, vão cada um para seu lado sabendo menos do que saberiam se tivessem estudado por conta própria.

Apesar da minha indisposição em participar de qualquer grupo de estudo concurseiro, tempos atrás cedi aos insistentes convites de uma amiga para fazer parte de um grupo de estudo de Direito Constitucional que ela estava organizando. Confesso que aceitei tal convite não somente com segundas intenções em relação a essa amiga, mas terceiras e quartas também, mesmo porque ela é muito gosto ... hummm ... bonita e, além disso, posso ser concurseiro, mas não estou morto!

No dia combinado, lá vou eu para a biblioteca pública onde o grupo reuniria pela primeira vez para decidir como trabalharia. Eram seis concurseiros e, de cara, vi que aquilo não podia dar certo. Dois dos participantes eram concurseiros recentes, nem um mês de estudo, outros dois com jeitão de falsos concurseiros, minha amiga e eu com mais tempo de estrada.

Para minha enorme surpresa, esse primeiro encontro foi tranqüilo. Minha amiga tinha bolado um planejamento, explicou direitinho, todo mundo acatou e ficou marcado um segundo encontro para daí uma semana, quando cada um faria uma breve apresentação de um tópico e distribuiria uma cópia do resumo que fez do assunto.

Passou-se a semana e lá estávamos reunidos novamente. Na ordem do sorteio realizado na semana anterior, cada um fez sua apresentação, algumas melhores, outras piores, até que chegou a vez de um cara concluir com sua apresentação. O tópico que lhe cabia não era difícil, mas ele conseguiu fazer uma bagunça tão grande que ninguém entendeu nada de nada. Daí começou a discussão do “sexo dos anjos”, no caso, o método de estudo claramente errado do cara.

Cada um explicou como costumava estudar. Cada um com um método, cada método com suas vantagens e desvantagens. Até que chegou a vez do cara que havia dado início àquela discussão. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:

- Eu não acredito nesse negócio de ter um único método para estudar. Para mim tudo depende do meu humor, se estou cansado ou não, de coisas assim. Tem dias que estudo só na lei seca. Algumas matérias nem olho lei nenhuma, vou direto na doutrina. Algumas coisas apenas pesquiso na Internet.

- E dá certo?

- Olha, para mim tem dado, sim.

- Mas estudar desse jeito não é bom, falta consistência.

- Claro que não, tenho tudo sob controle.

- Amigo, me desculpe, mas isso não é método de estudo nem aqui nem na China. Olha a apresentação que você fez. Nem vou falar no resumo, que está mais confuso ainda.

- Você não pode dizer isso. Cada um tem seu jeito de estudar ...

- Eu concordo que você não está fazendo a coisa certa, não. Até eu, que já estudei esse tópico um punhado de vezes, não consegui seguir tua apresentação.

- Seguinte, gente, se vocês não gostam do meu método de estudo, porque é, sim, um método de estudo muito bom, problema de vocês. Eu que não vou mais perder tempo com perdedores, vou estudar sozinho.

Isso que eu chamo de resistência até o fim. O cara não deu o braço a torcer de que poderia estar errado, ao invés disso preferiu fugir da verdade incômoda. O pior é que há muitos concurseiros como esse cara, gente que não sabe estudar, não sabe o que estudar, não sabe o quanto estudar, mas que diz que sabe tudo isso e ainda consegue atrair gente que acredita neles e tenta fazer igual.

Um dos piores tipos de concurseiro são os falsos concurseiros que não aceitam que são falsos concurseiros. Essa gente é uma praga que prejudica aos concurseiros iniciantes que procuram referências e não sabem direito como separar o joio do trigo, as boas referências das más. E nesse muita gente acaba prejudicada, gente boa que merecia uma chance para se tornar servidor público e que, por isso, nunca a terá.

Conselho de amigo, não se enganem, concurseiros sérios precisos ter flexibilidade para adequar seus métodos de estudo, suas estratégias, suas abordagens e ambições. Na luta dos concursos públicos a falta de flexibilidade é fatal!

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