Hoje quero tratar de um assunto muito importante para concurseiros em geral, um assunto que definirá se a pessoa será um concurseiro sério, um concurseiro comum ou um falso concurseiro. Antes de começar, porém, acho necessário definir rapidamente cada um desses tipos de concurseiro. Vamos lá.
Concurseiros sérios são aqueles concurseiros que estão na guerra dos concursos públicos para vencer e por isso usam de todas as armas de que dispõem de forma muito consciente. São concurseiros informados que sabem que estudar requer muita seriedade, disciplina e técnica, não se enganam que a vitória será fácil ou rápida, por isso estão mais preparados para não desanimar durante o período de derrotas e insucessos que pavimentam o caminho para a vitória.
Concurseiros comuns são aqueles concurseiros que querem, sim, vencer na guerra dos concursos públicos, mas não se esforçam tanto quanto deveriam, estudam apenas o normal, não procuram se informar das melhores técnicas de estudo, usam como material de estudo apenas apostilas, ficam desanimados com as derrotas, param de estudar, voltam a estudar. Uma parte acaba vencendo, mas somente após muito mais sofrimento e espera que o necessário.
Falsos concurseiros são aquelas pessoas que dizem que estudam para concursos públicos, mas que na verdade apenas enganam a si mesmos e às outras pessoas. Não têm disciplina ou técnica de estudo alguma, compram alguns livros, fazem um carnaval como se estivessem estudando muito, mas na verdade estão com a cabeça em outros lugares e a última coisa com que se preocupam é em perder seu precioso tempo com estudo. Essas pessoas estão fadadas a sofrerem derrota atrás de derrota, podendo apenas inventar desculpas esfarrapadas para justificá-las.
As coisas funcionam mais ou menos assim. Quando alguém resolve lutar na guerra dos concursos públicos, essa pessoa ainda não é um concurseiro, mas aspirante a concurseiro. Essa é uma fase de limbo durante a qual a pessoa sente o terreno, começa a travar conhecimento com a guerra dos concursos públicos, tem o primeiro contato com o estudo e com as matérias que deverá estudar. Nessa fase a pessoa ainda não é concurseiro de nenhum tipo. Quanto dura essa fase? Pode variar de alguns dias a alguns meses, até alguns anos.
Uma das características mais marcantes de quando alguém começa a estudar para concursos públicos é sua crença de que algum tipo de mágica, providência divina ou olhar complacente da sorte lhe dará a vitória na guerra dos concursos públicos “de mão beijada”, ou seja, de forma rápida, fácil e com um mínimo de esforço. Será como a pessoa lidará com essa crença que definirá que tipo de concurseiro ela será.
Para exemplificar o assunto, usarei duas mensagens enviadas pelos leitores. Antes, porém, quero deixar claro que não estou de modo algum criticando esses colegas por enviarem tais mensagens ou por terem tais dúvidas, muito pelo contrário, visto que eles têm o mérito de estarem perguntando algo que muitos não gastam nem cinco minutos pensando a respeito, ou sejam, já demonstram certa seriedade por perguntarem. Por favor, entendam o que direito como o conselho de um amigo concurseiro que já passou por tudo isso e só quer ajudar. Dito isso, continuemos.
“oi,gostaria de uma ajuda de voces! vou começar a estudar para um concurso aqui da minha cidade em que só vai ter questões de portugues e informatica.Como não sou organizada e não sou muito dedicada gostaria que voces me enviassem um plano de estudo que fosse não muito puxado mas que desse para eu absorver todo o conteudo das materias.Estudo pela manha e tenho as tarde livres e a maioria das noites tambem!obrigada”.
A menina que enviou essa mensagem tem duas coisas muito importantes a seu favor:
1 – Concurso municipal que cobrará apenas duas matérias, português e informática.
2 – “
Estudo pela manha e tenho as tarde livres e a maioria das noites também”.Vejamos.
“Apenas duas matérias para estudar, então será fácil passar” ... hehehe ... até rima o pensamento da maioria das pessoas que sabem de um concurso assim. Não poderiam estar mais enganadas. Quem está estudando para concursos públicos sabe que português e informática não são bolinho, são matérias extensas e com nível de dificuldade respeitável. No entanto a menina que enviou essa mensagem tem todas as tardes e a maioria das noites livres para estudar, o que já a deixa com vantagem em relação a quem trabalha o dia todo e pode estudar apenas durante a noite.
No entanto, nossa amiguinha tem também pontos muitos importantes contra ela:
1 – “
(...) não sou muito organizada e não sou muito dedicada”.2 –
“um plano de estudo que fosse não muito puxado mas que desse para eu absorver todo o conteudo das materias”.Não ser muito organizado não é problema, nada que a disciplina não resolva, o problema é a dedicação. Estudar para concursos demanda muita dedicação, na verdade, dedicação absoluta. É necessário estudar com muita seriedade, disciplina e dedicação, isso é fato. Mas o que é dedicação?
“Qualidade, característica, ação ou atitude de quem cuida de alguém ou de algo com cuidado e atenção”.Agora vem a crença na mágica que citei no começo do artigo. Nosso amiga quer que alguém outro bole um plano de estudos para ela, um plano suficiente para que ela possa absorver todo o conteúdo das matérias sem que isso represente algo muito puxado. Putz, eu que sou mais bobo gostaria disso também e, tenho certeza, 110% dos concurseiros sérios que lutam por uma vaga no serviço público!
Cara amiga, esqueça que isso não existe, não há um plano de estudo que permita que você aprenda tudo dessas matérias, mesmo sendo apenas duas, ainda mais sem esforço. É exatamente o contrário. Você terá de quebrar a cabeça para bolar um plano de estudo que permita que você aprenda o máximo que puder dessas matérias, o que, não se engane, será puxado, cansativo, chato, algumas vezes frustrante. Se vale a pena? Se você achar que ter um trabalho no serviço público onde você terá estabilidade é, realmente, algo interessante, então vale a pena.
Quer uma sugestão de estudo? Então lá via. Quatro horas de estudo de teoria à tarde, duas horas para cada matéria, das 13 horas às 17 horas. Depois três horas de estudo com resolução de exercícios a noite, 90 minutos para cada matéria, das 18:00 às 21:00. Isso seis dias por semana, você pode tirar o sábado ou o domingo para estudar, até o dia anterior à prova do concurso que você pretende prestar. Material de estudo? O novo livro de Gramática Portuguesa do Professor Pasquale Cipro Netoe o “Informática para Concursos” do Jorge Ruas.
Vejamos agora outra mensagem que recebi recentemente.
"Tem como montar um calendário de estudo para um concurso que acontecerá daqui a dois meses? To meio perdido porque nunca estudei matéria de Direito na vida!"
Notaram a mesma crença em algum tipo de mágica? Nosso amigo não sabe nada de Direito, afinal de contas, nunca teve contato com a disciplina. Ele planeja estudar para um concurso que acontecerá daqui a dois meses. Só mesmo com mágica para se partir do zero no estudo de Direito para em dois meses estar afiado o suficiente para passar em um concurso público, considerando, é claro, que nesse concurso sejam cobradas também outras matérias e que em direito sejam cobrados pelo menos constitucional e administrativo.
Direito é uma disciplina bastante árida para quem nunca teve contato com ela, exigindo tempo para se apreender a lógica da matéria, o jargão e linguagem usados. Digo que dois meses de estudo sério é o tempo necessário para aclimatação com a disciplina, o tempo mínimo necessário para se acostumar com ela e, então, poder começar a estudar realmente.
Para os dois amigos que enviaram essas mensagens digo o seguinte. Só de você terem tido o trabalho de enviar suas dúvidas para o blog, significa que vocês estão no caminho certo para se tornarem concurseiros certos e trilharem o caminho que leva a vitória em concursos públicos. Notem, porém, que isso não será fácil, é necessário, repito, muita disciplina, esforço e humildade para estudar como se deve e se aprender com o erro. A luta é dura, mas a recompensa vale a pena, isso é garantido.
Resumo da ópera – A mídia é uma das grandes responsáveis por essa “crença na mágica” que muitas pessoas têm quando pensam em prestar concursos públicos. Jornais, telejornais, websites, cursinhos, todos anunciam o grande número de vagas oferecidas nos concursos, nos ótimos salários pagos, mas ninguém diz que estudar para concursos públicos é difícil, desgastante, demanda tempo, ou seja, é um osso duro de roer. Se a pessoa toma consciência disso, desiste de buscar soluções mágicas e vai estudar como se deve, ela se tornará um concurseiro solitário. Se a pessoa toma consciência disso, desiste de buscar soluções mágicas, mas resolve apenas fingir que está estudando, ela se tornará um falso concurseiro. O pior é quando a pessoa continua acreditando nas soluções mágicas, daí ela se tornará mais um concurseiro comum que vai estudando mais ou menos, acreditando que algo mágico lhes garantirá uma vitória impossível.
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