Cuidado com o que você deseja
Concursos Públicos

Cuidado com o que você deseja


Alguns anos atrás assisti a um filme de terror classe B onde um grupo de jovens descobria numa casa abandonada um tipo de lâmpada do Aladim, mas que guardava um gênio do mal. Como em todo “bom” filme desse gênero, os jovens fazem seus pedidos na brincadeira, o tal gênio do mal leva à sério, mas os realiza de uma forma que só ferra cada um deles, até que sobra um herói e uma mocinha que dão cabo dele no final, se livrando de uma morte certa e dolorosa.

O pior é que em se tratando de concursos públicos, também é preciso ter muito cuidado com o que se deseja, para que a alegria da vitória nessa guerra não se transforme num pesadelo como nesse filme de terror de classe B que assiti.

Explico.

Um amigo meu está inconsolável. O filho, com 23 anos, não querendo encarar uma faculdade, resolveu estudar para concursos públicos. Na verdade, para um concurso público específico, “Quero ser agente penitenciário”. O cara estudou bastante, passou na prova escrita, fez uma série de provas físicas, exames e avaliações psicológicas, e foi aprovado. Passou algum tempo, foi nomeado e empossado no cargo que tanto desejava, devendo exercer suas funções em uma cidadezinha turística tranquila do Sul de Minas, na cadeia da cidade. No dia 1º de setembro ele entrou em exercício, feliz da vida.

Ontem o pai dele, que é meu amigo, me ligou desconsolado porque o filho tinha pedido exoneração do cargo! Isso mesmo, menos de cinco meses depois de entrar em exercício. O problema é que o cara tem mulher e filha pequena, de três anos de idade, tinha comprado um automóvel financiado, se mudado para uma casa mais cara do que a que morava antes, com várias contas para pagar ... e agora voltou à estaca zero. O motivo, ele iria ser transferido para trabalhar em um presídio próximo a Belo Horizonte. “Ele disse que uma coisa era encarar alguns bebuns e ladrões pé de chinelo numa cidadezinha pequena, outra completamente diferente seria ter que lidar todos os dias com traficantes, assassinos e gente da pior espécie pertencentes à quadrilhas perigosas como o PCC e o Comando Vermelho”.

Esse drama me fez pensar em quantos concurseiros estão lutando para serem vitoriosos em concursos para cargos que não são exatamente o que querem, onde exercerão funções e terão responsabilidades muito diferentes das que imaginam. Esse é um caminho certo para a frustração e decepção.

Acho que essa questão é menos grave quando falamos de cargos administrativos. Nesse tipo de cargo, o cara sabe que vai lidar com papelada, com o público, bater carimbos, arquivar e desarquivar pastas, essas coisas. O problema maior, no meu entender, está nos cargos de fiscalização e os relacionados com segurança pública. Vejamos.

Nos cargos de fiscalização, como os de Auditor da Receita Federal ou Fiscal da Receita Fazendária, o cara vai agir diretamente com empresas e com os que devem pagar tributos ao fisco em geral. Tudo bem que há trabalho interno, onde o cara não sai da repartição, mas a maioria dos fiscais age em campo, ou seja, visitando empresas e contribuintes. Isso significa lidar com pessoas numa situação, muitas vezes, não muito agradável, afinal de contas, o fiscal é um tipo de cobrador e ninguém gosta de ser cobrado.

Nos cargos de segurança a coisa pega mais um pouco. Claro que há o glamour decorrente dos filmes de Hollywood, mas o cotidiano de policias e agentes de segurança está muito longe disso. Não é nada tranquilo ter de lidar diariamente com criminosos, correr o risco de morrer ou levar uma bala por conta de um tiroteio. Um policial, um agente da Polícia Federal, um policial rodoviário ou um agente prisional estão sujeitos a isso, sem glamour nenhum, estando mais para “Tropa de Elite” que para “Duro de Matar”.

Resumo da ópera – O concurseiro sério toma cuidado desde a escolha do cargo a que pretente prestar provas. Ele procura saber como é o cotidiano de trabalho desses cargos, avalia com cuidado se tem o perfil correto para o trabalho e não se deixa levar por glamour ou número sedutores da remuneração. Agora, o concurseiro lerdo que não toma cuidado com isso tem grandes chances de se decepcionar com o cargo conquistado e se ver forçado a abandonar tudo para recomeçar dolorosamente do zero.

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

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É até engraçado como na guerra dos concursos públicos muitos concurseiros são vitimados por tiros que eles mesmo disparam. Sim, você leu certo. Há muitos concurseiros que são vítimas das próprias escolhas. Melhor explicar com um exemplo prático....



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