Gol contra
Concursos Públicos

Gol contra


Anteontem escrevi um artigo no blog sobre como muitas vezes a família do concurseiro atrapalha seus estudos com críticas e cobranças. Pois bem, uma concurseira enviou então uma questão sobre o assunto que é muito pertinente e afeta todos os concurseiros, uma hora ou outra, com maior ou menor intensidade. Vejamos.

"O que devemos fazer quando a cobrança por não trabalhar é nossa? Minha família me incentiva totalmente, mas eu me cobro demais, me sinto angustiada."

Olha, gente, realmente não conheço concurseiro que já não se cobrou por estar estudando ao invés de estar trabalhando, de demorar para passar e ser empossado, de demorar para aprender as matérias, de demorar para ir super bem nas provas. O pior é que em grande parte das vezes essa cobrança parte do inconsciente, ou seja, surgem do nada sem que possamos controlar seus efeitos ou duração.

Entendo que há um componente social nessa questão. Crescemos aprendendo e acreditando que ao sair da faculdade (ou do nível médio) devemos começar a trabalhar, a consumir, devemos casar, formar uma família. Nossos pais nos ensinaram isso, assim como nossos professores, afinal de contas, essa era a ordem natural das coisas da época em que eles eram jovens. Só que com os choques do petróleo na década de 70 e início da década de 80, a globalização dos anos 80 e 90, as coisas mudaram muito, muito mesmo. Hoje há mais gente e menos empregos, aumentou a instabiliadade no emprego, o mundo anda mais rápido, as coisas mudam de uma hora para outra, e nesse novo cenário estudar, estudar e estudar se tornou muito mais premente.

Notem que até 2003, por aí, trabalhar no serviço público não era nada interessante. As remunerações eram muito mais baixas que as oferecidas pela iniciativa privada, não havia valorização dos servidores públicos. Eu mesmo tremia com a idéia de ter de "apelar" para a carreira pública como meu pai insistia que eu fizesse, cosumava dizer, pensar e acreditar indignado que "não ralei tanto para fazer uma ótima faculdade para me tornar servidor público". Hoje o jogo mudou, serviço público paga muito melhor que iniciativa privada, oferece estabilidade, e há o status de ser servidor público, que com a dificuldade de passar nos concursos, dá aos novos servidores uma aura de "eu consegui vencer essa guerra".

O problema é que muitas vezes argumentos racionais não são suficiente para vencer crenças irracionais que foram plantadas em nossas mentes desde que éramos pequenos.

Além desse fator irracional, há também fatores racionais. Quem gosta de estar fora do "oba oba" do consumismo? Quem não trabalha não ganha salário e, portanto, não pode comprar, não pode viajar, não pode gastar. Isso pega, é difícil. Além disso, vemos amigos e parentes construindo uma vida, casando, tendo filhos, comprando apartamento, formando seus próprios lares. Tudo isso pega muito, a tal da "sensação da vida em pause" é muito difícil de lidar de vez em quando. Isso tudo contribui para essa auto-cobrança um tanto irracional, mas que existe e nos afeta.

É mais ou menos como no futebol, de vez em quando por menos que se queira que isso aconteça, acaba-se fazendo gol contra. Algumas vezes esse gol contra acontece por acidente, outras vezes por algum irracional erro de percepção do jogador. Quando acontece vem o choque, o balde de água fria, a tristeza, o desespero. Só que o jogo continua, o tempo continua correndo, e apesar de ter dado um ponto para o adversário, o jogador que fez o gol contra tem de continuar lutando, ainda com mais intensidade para compensar a tranqueira que fez.

Resumo da ópera - Faz tempo que cheguei a conclusão de que estudar sério para concursos públicos é também lutar contra adversidade, sejam materiais, psicológicas, motivacionais ou o que mais apareça para o caminho, muitas reais, outras imaginárias, mas que têm de ser combatidas a todo custo e com o máximo de eficiência, sob o risco de tornar pesadelos em realidade.

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

IMPORTANTE - Os textos publicados nesse blog são de inteira responsabilidade dos seus autores em termos de opiniões expressadas. Além disso, como não contamos com um revisor(a) de textos, também a correção gramatical e ortográfica é de inteira responsabilidade dos mesmos.



———«»———«»———«»———





loading...

- A Dureza Da Vida Após A Posse
"Depois de ser empossado todos os meus problemas estarão resolvidos e viverei feliz para sempre." Confesse, concurseiro, você já pensou algo assim pelo menos uma vez depois de ter começado a estudar para concursos públicos, provavelmente pensa assim...

- Final De Ano Não é Brincadeira
Finalmente o final do ano chegou com o mês de dezembro e com ele chegou não somente o clima de natal, o oba-oba do consumismo e tudo o mais, mas também a cobrança para com quem estuda em concursos públicos e ainda não conseguiu garantir a posse...

- A Síndrome Do Concurseiro Náufrago
Nos idos do início da década de 90, quando tinha acabado de entrar na faculdade, era a época de popularização do sistema operacional Windows, os computadores ainda eram do tipo 486 (tem gente que lê esse blog que ainda era baby nessa época) e os...

- Ping, Ping, Ping ...
Ufa, gente, finalmente o problema com o blogger está resolvido e voltamos a nossa programação normal de artigos diários. Dias atrás após escovar os dentes antes de dormir, tapei o ralo da pia com aquela tampinha de plástico usada para isso, visto...

- A Idade Ideal Para Ser Concurseiro
Ontem, no bate-papo semanal do blog, estava conversando com uma concurseira de Brasília sobre um assunto muito comentado aos sussurros entre concurseiros, muito temido por muitos, mas muito pouco discutido abertamente, sobre a idade certa para ser concurseiro....



Concursos Públicos








.