A dureza da vida após a posse

"Depois de ser empossado todos os meus problemas estarão resolvidos e viverei feliz para sempre." Confesse, concurseiro, você já pensou algo assim pelo menos uma vez depois de ter começado a estudar para concursos públicos, provavelmente pensa assim várias vezes por semana. Eu pensei. Não há pecado nisso.

O problema é que a realidade não é tão doce quanto nos faz acreditar nossa açucarada idealização de como será nossa vida após a posse. Explico.

Após a posse temos, sim, uma melhora grande do padrão de vida e consumo, isso é fato proporcional ao valor no holerit mensal. Ganhar bem é muito bom. Saiu o Ipad 2, você pode comprá-lo. Aquele final em Campus do Jordão com a pessoa amada depende apenas de reservar aquele chalezinho charmoso. Férias no exterior? Opa, já está marcada e com passagens compradas. Mas por outro lado há também um aumento proporcional das responsabilidades e diminuição do tempo livre para fazer tudo aquilo que o cotidiano exige que façamos.

Para quem já se tornou ex-concurseiro vitorioso com a última posse que tomou, as coisas são um pouco mais fáceis, mas para quem continua concurseiro, aí o bicho pega ... é o meu caso.

Como vocês sabem, sou servidor público federal lotado na capital paulista, onde moro sozinho a cinco quarteirões do trabalho, indo nos finais de semana para o Sul de Minas (200 km distante) onde estão família, namorida, amigos. Tecnicamente trabalho das 8:00 às 17:00 ... mas é comum de ficar até ás 18:00. Não tenho empregada ou faxineira diarista. Continuo estudando para concursos públicos. Administro esse blog. Sou escritor de livros de concursos públicos (o segundo livro está no forno e deverá ser lançado em breve). Tempo me falta, sobram as coisas para fazer. Para vocês terem uma ideia, mudei de apartamento há três semanas e até agora não consegui colocar tudo no lugar na nova morada!

Conheços vários concurseiros empossados e todos partilham da mesma falta de tempo e excesso de coisas para fazer que eu. Temos jornada tripla ... servidores públicos, donos de casa e concurseiros. Diariamente nos deparamos com escolhas difíceis como "fazer faxina em casa ou estudar Direito Administrativo?" ... "ir ao supermercado fazer compra ou resolver uma prova de concurso recente?". Algumas vezes podemos optar por estudar ao invés de fazer outras coisas, algumas vezes, não.

Organização e planejamento nunca foram tão necessários quanto para quem já foi empossado e continua estudando. Não temo dizer que ainda mais que para quem trabalha na iniciativa privada e estuda para passar para o serviço público, mesmo porque quem está nessa situação não tem de lutar "dia sim, dia não" contra o insidioso pensamento de que "você já foi empossado, de uma forma ou de outra já está com o futuro garantido" que somente quem o enfrenta sabe como é forte.

RESUMO DA ÓPERA - É claro que a vida do concurseiro melhora MUITO após uma posse, fato esse incontestável. Só que a realidade é muito mais dura que nos leva a crer nossa viajante imaginação, impondo a quem já conquistou uma ou mais vitórias na guerra dos concursos públicos novos problemas cotidianos e desafios que exigem solução muitas vezes imediata. Ou seja, não são somente os concurseiros não empossados que sofrem, não mesmo.

CHARLES DIAS é o Concurseiro Solitário.

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