Ganância concurseira

Nesse final de semana tive de tomar uma decisão difícil.

Venho aguardando um faz pelo menos seis meses por um concurso público específico, que finalmente teve o edital publicado. Ótima notícia. Ao contrário da maioria dos concursos, que dão entre a publicação do edital e a data das provas por volta de seis semanas para os concurseiros trabalharem seu preparo, esse dará o dobro de tempo.

O problema é que entre esse final de semana e o final de semana de realização das provas desse concurso, já estão marcados outros dois concursos muito interessantes, até agora.

Daí vem o dilema. Focar única e exclusivamente nesse concurso que vinha esperando havia tanto tempo, não ter olhos para outros concursos, afinal de contas, assim poderei estudar 200% nesse concurso, praticamente garantindo minha aprovação dentro do número de vagas oferecidas, ou, então, dividir o tempo me preparando para pelo menos mais um concurso muito bom que ocorra nesse meio tempo.

É nesses momentos de dilema que muitos concurseiros são atingidos em cheio por uma das piores coisas que podem surgir em seu luta por um cargo público, a ganância. Ela se manifesta de uma forma muito interessante, o concurseiro, simplesmente, não consegue focar em apenas um concurso a ser realizado no médio prazo, nada disso, em sua cabeça fazer isso passa a se parecer com perder tempo, com perder ótimas oportunidades. O cara pensa coisas do tipo “não posso depositar todos os ovos no mesmo cesto” ou “e se eu não passar nesse concurso enquanto poderia passar em algum outro que fizesse no meio do caminho”.

Não se enganem, o “canto de sereia” da ganância concurseira é muito, mas muito sedutor, e faz muitas vítimas, principalmente entre os concurseiros mais verdes, com menor experiência na guerra dos concursos públicos. O resultado, claro, é devastador. O cara se inscreve para trocentos concursos públicos, todos com provas próximas, todos com matérias diferentes (por mais similares que sejam), todas exigindo ótimo preparo ... no final o cara não passa em nada, pode até ficar bem colocado, mas não se classifica nas posições que realmente se transformarão em nomeações.

Confesso que escrevo com conhecimento de causa. No meu primeiro ano como concurseiro fui vítima duas vezes da ganância concurseira e o resultado foi ruim como estou descrevendo. Desperdicei meu esforço, meu tempo, meu dinheiro, minhas esperanças, por culpa da ganância concurseira, que naqueles momentos se mostrava como uma boa estratégia.

Se você não quer ser vítima da ganância concurseira, quando sentir um comichão de se inscrever em mais concursos do que seria aconselhável, quando sentir um certo desconforto por estar se preparando para apenas um concurso público que ainda demorará três meses para prestar provas, então é bom analisar a situação sobre três óticas:

Ótica da prudência – É prudente se inscrever em vários concursos em dado período de tempo? Isso não irá prejudicar seu estudo para todos eles? Com isso você não poderá correr o risco de colocar a perder seu sonho de aprovação em um deles em especial?

Ótica da praticidade – É prático se inscrever em vários concursos em dado período de tempo? Não será complicado conciliar o estudo de programas de matérias tão diferentes? Não será complicado lidar com estudo corrente e semanas de revisão pré-prova simultâneos? Não será muito cansativo ficar viajando e fazendo provas ao longo do preparo, prejudicando de forma cumulativa sua capacidade de estudo?

Ótica do bom senso – É realmente uma boa idéia se inscrever em vários concursos em dado período de tempo? Você realmente terá como estudar bem para cada um deles de forma a ter reais chances de aprovação? Não será a ganância concurseira te atacando?

Resumo da ópera – A ganância concurseira não escolhe suas vítimas, não quer saber se têm mais ou menos “tempo de estrada”, não está interessada em quanto eles estão ansiosos pela vitória na guerra dos concursos públicos. Ela é democrática na forma como ataca e faz vítimas e somente pode ser evitada com cabeça fria por parte do concurseiro. Então, gente, cuidado ... muito cuidado.

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