Um pássaro na mãos, dois voando ou enfim posso descansar?

Semana passada recebi por email duas perguntas feitas por concurseiros ledores do blog que têm tudo a ver, apesar de aparentemente não terem, e que me levaram a escrever esse artigo. Vejamos primeiro essas perguntas:

Pergunta 1 - "Esse ano passei em dois concursos públicos (fui classificado dentro do número de vagas do edital em ambos), os boatos são que para um deles as nomeações serão publicadas em janeiro ou fevereiro e para o outro serão publicas em março ou abriu. Ambos cargos são ótimos, só que o segundo tem uma remuneração quase o dobro da primeiro e a descrição do trabalho é mais atraente. Estou atormentado pensado se devo tomar posse no primeiro cargo e saindo a nomeação do segundo cargo pedir exoneração do primeiro para poder assumi-lo, ou se devo, de cara, não tomar posse no primeiro e esperar um pouco mais para tomar posse no segundo. O que você faria?"

Pergunta 2 - "Agora que você passou em segundo lugar no concurso da Dersa, porque não tira um tempo para descansar, Charles? Você merece depois de estudar tanto".

Notaram como as perguntas são interligadas? Ambas tratam da questão "vida após boa classificação em concurso público". Quantos concurseiros não gostariam de estar nessa situação? Existe coisa melhor que estar com um ou mais concursos garantidos no bolso? Calma aí, gente, que a guerra não acabou, a situação não é tão boa assim e não é o final das dúvidas.

Exitem duas fases na guerra dos concursos públicos.

A primeira fase consiste em estudar o suficiente para alcançar classificações dentro do número de vagas dos editais dos concursos públicos que prestar. Essa fase depende total e inteiramente dos concurseiros, que deem estudar sério o tempo suficiente para poder alcançar a maturidade de estudos requeridas para estarem entre os melhores dos melhores. Estudou seriamente por tempo suficiente, alcançou essa maturidade, então vencer essa fase é consequência natural, nada de extraordinário.

A segunda fase consiste em ser nomeado e empossado nos cargos públicos em que se conseguiu classificação dentro do número de vagas, algo que, em princípio, não depende absolutamente nada do concurseiro, de sua vontade ou de seu conhecimento. Quem determina quantos e quando nomear é a Administração Pública. As nomeações podem acontecer rapidamente, dias após a homologação, ou então podem demorar muito para acontecer, meses após a bendita homologação. O que o concurseiro pode fazer nessa fase é ficar de olho e procurar o amparo da justiça caso não seja nomeado dentro do prazo de validade de um concurso público em que foi classificado dentro do número de vagas.

Aí que está o problema, muita gente não se dá conta que existe essa segunda fase da guerra, e já entrega a toalha após obter uma boa classificação dentro do número de vagas do edital. Não pensam no prudente “e se demorarem meses para nomear?”

Voltemos as duas perguntas do início do artigo.

Pergunto para nosso amigo feliz classificado dentro do número de vagas em dois concursos públicos. Digamos que as nomeações para o primeiro saiam realmente em janeiro, você não tome posse esperando pelas nomeações do segundo … que demoram um ano para saírem. Sacou o que vai acontecer? É viver um ano de dúvida (será que as nomeações do segundo concurso realmente sairão?) e ao mesmo tempo perder um ano de trabalho garantido no primeiro cargo (um ano de experiência, um ano de remuneração mensal, um ano de tempo para aposentadoria). Vale a pena? Vocês arriscariam? Eu, não, de modo algum.
E respondendo a segunda pergunta, é exatamente por esse motivo que não parei de estudar e nem vou fazê-lo tão cedo. Tudo bem, estou classificado dentro do número de vagas, mas quando serei nomeado? Eu não sei e se brincar o próprio pessoal da Dersa que decide sobre isso também não sabe. E daí, vou parar de estudar e ficar de papo para o ar descansando por um período de tempo que não tenho nem ideia da extensão? De modo algum, seria loucura fazer isso.

Resumo da ópera – Passar em concursos públicos com boa classificação deve ser mesmo nossa meta, mas não é a solução final dos nossos problemas, não é o sinal de que podemos parar de estudar. Somente a assinatura do termo de posse (ou de contratação no caso de um emprego público) poderá nos deixar respirar aliviados e nos dar a certeza de que podemos descansar um pouco, caso decidamos continuar lutando por cargos melhores, ou de vez por todas.

Charles Dias é o Concurseiro Solitário.

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