Carreira militar: ingresso difícil, preparo permanente
Concursos Públicos

Carreira militar: ingresso difícil, preparo permanente


Um segmento pouco difundido de carreiras públicas é justamente uma das mais importantes para o País, sobretudo quando o assunto é segurança: o de concursos militares. As carreiras militares são dotadas de uma singularidade própria, e isso se estende aos seus exames de seleção. E para os desavisados, investir num concurso público militar pode ser uma "caixinha de surpresas", especialmente se o interesse da pessoa estiver em se tornar apenas um funcionário público.

O preparo do militar ocorre através de um curso de formação, no qual se ministra ensino teórico e prático. Com isso, não há apenas uma adaptação a regras específicas de uma profissão, mas sim a uma rotina bem diferente. Ele passa a realizar atividades como segurança da unidade em que se encontra, serviços de faxina, manutenção de equipamentos, a aprender manuseio de armamento e munição, bem como instruções de regulamentos e legislação próprios, ordem unida, comportamento militar, dentre outras diversas atividades. O objetivo, com tudo isso, é a formação da personalidade militar, que passa por uma sujeição necessária aos pilares do militarismo: hierarquia e disciplina. Já dizia Moniz Barreto, em célebre carta a el-Rei de Portugal: "Porque, por definição, o homem da guerra é nobre. E quando ele se põe em marcha, à sua esquerda vai coragem, e à sua direita a disciplina".

A profissão militar é comparável a um sacerdócio, que existe dedicação exclusiva e tira do indivíduo diversos direitos assegurados a servidores públicos civis, como repouso semanal remunerado, adicional noturno, adicional de periculosidade, o exercício de greve e sindicalização, além de ser uma carreira que exige dele um preparo físico e intelectual proporcionais às necessidades do serviço. Sem contar que a família também acaba sofrendo consequências advindas da carreira militar, como as constantes transferências - em prazos como de dois, três anos -, além do soldo suficiente para o atendimento de, somente, necessidades básicas, e que às vezes falta para vencer as despesas. Enfim, em brevíssimo esboço, constata-se que a carreira da caserna é algo muito peculiar e que desafia aos incautos com a questão: vale a pena?

Para quem dispõe de formação acadêmica em curso superior, uma das opções de ingresso nas instituições militares ocorre todo ano com o concurso de admissão à Escola de Administração do Exército (EsAEx), que forma oficiais não combatentes - de ambos os sexos - para áreas como Administração, Economia, Direito, Informática, Comunicação Social e de Magistério, destinadas a professores de disciplinas como Matemática, Química, História e Biologia, dentre outras. Oficiais não combatentes são aqueles que não lidarão diretamente com as funções bélicas que dizem respeito ao curso de Bacharelado em Ciências Militares da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). São duas vertentes diferentes, portanto: os formados pela EsAEx são destinados a atividades de assessoria e de ensino, formadores, com isso, do Quadro Complementar de Oficiais do Exército (QCO).

O exame de admissão possui várias peculiaridades, diversas da grande maioria dos concursos. Há um exame intelectual, composto por uma prova objetiva que traz, entre matérias de conhecimentos gerais, História do Brasil e Geografia do Brasil. E, sim, elas são eliminatórias, classificatórias e... difíceis de estudar, uma vez que cai de tudo, em detalhes. O edital de carreiras como a assessoria jurídica cobra pontos de treze ramos da área, inclusive Direito Penal Militar e Processo Penal Militar, que só se encontram em provas como as do Superior Tribunal Militar, por exemplo. Há também um exame de aptidão física, em que cobra-se corrida, abdominal, barra e flexão do candidato, e que devem ser treinados, tanto quanto testes e questões de provas anteriores. Também há inspeção de saúde, que para as candidatas pode chegar a dezessete exames clínicos. Números grandes, poucas vagas: para algumas áreas abrem-se apenas duas ou quatro, e nunca superam vinte. Isso tudo para pessoas com nível superior, de todo o Brasil, geralmente focadas há tempos para passar num exame desse porte.

Nisso dá para entender que o ingresso nessa Instituição é algo difícil, que demanda tempo e muito esforço. Já declararam por aí, entretanto: "ser militar é para quem pode". Por essa razão, cabe novamente a pergunta: "vale a pena"? Vale a pena o esforço de tentar uma carreira que exigirá abnegação, bastante esforço, preparo permanente, que não fará da pessoa um "Rambo" ou um "Delta Force" e sim lhe cobrará serviços que jamais serão exigidos de uma carreira civil? Vale a pena esforçar-se a carreira toda com movimentações, cursos de aperfeiçoamento, aptidão física indispensável e sempre buscar ter um bom conceito, afim de ser promovido? Para quem não "fantasia" com atividades bélicas sem ser combatente, mas que, antes de tudo, deseja ser militar, a resposta é afirmativa. Quem quiser ser servidor público das Forças Armadas nessas condições precisa almejar vestir a farda não como um simples uniforme, mas como uma segunda pele, que não se despe facilmente, mas que fica presa ao indivíduo pelo resto dos seus dias. Que antes de tudo haja o interesse de estar "pronto a assessorar" quem, mediante compromisso perante a Bandeira Nacional, promete defender nossas famílias "com o sacrifício da própria vida". A farda é bonita de se vestir, mas tem um peso, tanto para obtê-la quanto para usá-la. Quem se dispuser a pagá-lo, receberá, a seu tempo, a merecida recompensa.

Resumo da Ópera - As peculiaridades de um concurso militar, como o de admissão à Escola de Administração do Exército (EsAEx) são muitas, difíceis de serem encontradas em outros processos de seleção. Demandam tempo, esforço, e uma dedicação quase que exclusiva, a fim de se permitir o ingresso, dentre as poucas vagas oferecidas. O interessado, antes de tudo, deve almejar "ser" militar, não apenas usar-se da farda para o exercício de uma carreira pública. Como diz uma frase estampada num dos pátios internos da AMAN, "ser militar é mais que uma profissão: é missão de grandeza".

Cleber Olympio, um concurseiro que não será vítima dos detalhes.

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