Às mulheres
Concursos Públicos

Às mulheres



Os concurseiros que me desculpem, mas esta coluna hoje é inteiramente dedicada às mulheres. Houve um tempo em que eu achava que não havia muita diferença entre homens e mulheres, que era tudo uma questão cultural. Com o passar dos anos ? de alguma coisa há de servir a inexorável passagem do tempo ? tive de me render ao fato de que somos feitos, realmente, de ?massas? diferentes. Não melhor ou pior, apenas diferentes. Vemos o mundo a partir de perspectivas diferentes, sentimos diferente e nos comunicamos de maneira diferente.    
Se temos naturezas distintas, somos diferentes também nas batalhas ou maratonas que empreendemos. Sem desmerecer a forma masculina de lutar, parece-me que o esforço feminino torna-se maior por termos mais dificuldade em focar em apenas uma coisa, esquecendo o entorno, principalmente quando este ?entorno? significa pessoas, entes queridos. É quase como ter de amputar uma parte da gente, ter de negligenciar (é assim que sentimos) os cuidados com nossos ?próximos? tão próximos. 

Além disso, choramos. Quando ficamos tristes, quando temos medo, quando sentimos dor. Quantos atendimentos fiz em que tive de me conter para não desabar junto com a mulher à minha frente, fosse ela uma mocinha ou alguém mais maduro? O bacana é que isso não impede que sejamos fortes, muito fortes. Tanto que, sejam quais forem as dificuldades, seguimos em frente, muitas vezes por causa da nossa prole, para dar-lhes uma vida melhor. 

Então, a coluna hoje é dedicada às mulheres, guerreiras, corajosas, sensíveis, que estão na maratona dos concursos públicos. Dedico a Maria, que deixa a filha com a avó e sai para estudar. A Joana, que dorme às 9 da noite para acordar às 3 da madrugada e estudar, enquanto a família dorme. A Rita, que a despeito de toda a sua meiguice, prepara-se para ser Policial Federal. À Beth que, nascida e criada na favela, formou-se em Direito e está-se preparando para ser servidora pública. A Marina, que cria duas filhas sozinha, trabalhando como uma leoa. A Débora que, vítima de bala perdida e paraplégica, enfrenta todos os obstáculos para atingir seu objetivo. A Bruna que, no meio da maratona, apaixonou-se, e seu amor foi nomeado servidor em outro estado. A tantas e tantas mulheres, tão especiais em suas histórias singulares, que comovem quem as olha. 
Talvez, aos menos avisados, passe despercebido o turbilhão que vai por dentro de cada uma. Passamos ao largo, com cara de ?tudo bem?, e só quem tiver ?olhos de ver? para desconfiar quantas emoções explodem ali dentro. E, ainda assim, sentamos e estudamos. E vencemos.
A vocês, quero dizer que as admiro muito. E mais, quero dizer que, por mais que seja doloroso deixar pessoas e tarefas um pouco de lado, a vida que as espera depois da vaga compensa o período de dificuldades. É a liberdade de poder construir o futuro sem tantas limitações, apoiar verdadeiramente filhos e pais, investir em você sob todos os aspectos, dos mais bobos e supérfluos (também gostamos de nos cuidar) aos mais profundos e importantes. É estar na relação afetiva com a independência que nos permite ficar ou sair exclusivamente por motivos afetivos, sem aprisionamentos outros. 
Quero contar uma coisa: o que mais me doía, quando saía para estudar, era o meu caçula, com algo em torno de cinco anos, agarrado às minhas pernas pela manhã, chorando para que eu não fosse ?para a minha escola?, porque ele sabia que só me veria novamente no dia seguinte pela manhã (eu chegava tarde e ele já estava dormindo). Alguns anos depois que eu me tornei Fiscal de Rendas, ele, com onze anos, deixou um cartão para mim, a propósito do Dia das Mães, sobre o meu notebook. A imagem era a de um deserto e ele escreveu que aquilo era o nosso passado, mas que agora tínhamos um futuro maravilhoso pela frente. O que ficou para ele, que passou três anos sendo cuidado pelos irmãos, que também eram muito jovens (13 e 16 anos), não foi a tristeza, nem abandono, nem a dificuldade material que vivemos. Depois de tudo, o que ficou de importante, é o ?futuro maravilhoso? que temos pela frente. 
Então é isso. Pense no que você vai conquistar e siga, passo a passo. Há toda uma vida à sua espera depois da faixa de chegada! A luta é honrada é o prêmio é justo.
p.s. Homenagem especial a uma das mulheres mais especiais que conheci; alguém que, aos 80 e poucos anos, continua se reinventando a cada dia ? minha mãe.


Lia SalgadoBacharel em Direito pela UFF. Fiscal de Rendas do município do Rio de Janeiro. Autora do Livro "Como Vencer a Maratona dos Concursos Públicos". Consultora em concursos públicos e colunista do site G1 e participa de diversos eventos sobre o assunto.


BLOG LIA SALGADO: http://liasalgado.blogspot.com/




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