A difícil arte de estudar sem ser incomodado

É fato para lá de conhecido que atividade física regular deve fazer parte da rotina do concurseiro. É preciso praticar algum tipo de esporte pelo menos três vezes por semana, seja caminhada rápida, corrida, futebol, natação, subir escadas, bem, escolham sua modalidade esportiva. Os benefícios advindos dessa prática vão desde melhorar o sono, diminuir as dores no corpo por conta das longas horas sentados estudando, até intensificar a liberação de toxinas do organismo.

Pois bem, concurseiros sérios praticam atividade física regular, logo faço minha caminhada de quatro quilômetros e pouco diariamente de segunda a sexta (exceto quando chove). Enquanto alguns concurseiros preferem se exercitarem sem pensar em estudos, outros levam um tocador de MP3 com audio aulas ... eu caminho lendo. Isso mesmo, levo um livro (geralmente não muito grosso) e vou lendo enquanto caminho. Faço isso porque caminho num bairro novo próximo de casa onde não há trânsito, apenas algumas poucas casas e ruas largas, ou seja, com total segurança.

Quando decidi estudar para concursos públicos há dois anos e pouco atrás, resolvi voltar para a casa dos meus pais no interior de Minas a fim de ter calma para estudar (aqui conheço apenas meia dúzia de pessoas) e gastar menos (estudo em tempo integral). Acontece que minha mãe é assistente social de uma ONG que trabalha com idosos, além de ser católica fervorosa, uma conjunção de fatores que faz com que ela conheça muita gente, principalmente velhinhas e "tias".

Não é que desde a primeira caminhada que fiz estudando, não passa uma semana sem que alguma dessas velhinhas ou "tias" com que encontro nas ruas desse bairro também fazendo caminhada (sim, minha mãe colocou a mulherada para praticar atividades físicas, amplamente benéfica para idosos em termos de prevenção da osteosporose) e elas não me chamam atenção de um modo muito peculiar:

- Rapaz, não faça isso, você vai ficar cego se continuar lendo enquando anda!

Sim, meus amigos concurseiros, por aqui a idéia generalizada (pelo menos entre as velhinhas e "tias") e de que praticar a leitura enquanto a pessoa caminha leva, inevitável e rapidamente, à perda da capacidade de visão ... ou seja, quem lê enquanto anda fica cego em pouco tempo.

Claro que essa crença é uma total de falta de bom senso, mesmo porque todos praticam a leitura enquanto andam ao ler o que está escrito em placas, banners de trânsito, cartazes de anúncio, letreiros de lojas ... claro, não faz isso apenas quem é analfabeto.

O ponto que quero chegar é como é complicado estudar sem ser incomodado mesmo enquanto se pratica uma caminhada solitária. Em casa isso acontece, seja diretamente com alguém perguntando algo ou com o telefone, campainha da porta ou algo do tipo, acontece em locais públicos como numa praça, até mesmo em bibliotecas somos interrompidos. Acho engraçado como grande parte das pessoas, estudantes também ou não, não se preocupam em não incomodar quem está estudando, não pensam por um segundo que interrompendo o filho de Deus que está imerso na leitura fará com que ele "perca o fio da meada" e perca tempo tendo de retomar a leitura após o incômodo. Falta de boms sendo e até mesmo de educação.

Resumo da ópera - Concurseiros têm de ter muita paciência, mas muita paciência mesmo, a fim de enfrentar tantos contratempos, falta de desconfiômetro e compreensão das pessoas e tudo o mais. Portanto, o negócio é não perder a calma. Hoje quando uma das velhinhas ou "tias" me enchem o saco com a mesma conversa de que vou ficar cego, apenas dou um sorriso e continuo meu caminho ... respirando fundo, algo que faz bem para quem pratica atividades físicas.

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