Concursos Públicos

Vamos deixar bem claro que...

...a gramatiquice, como o próprio valor pejorativo do sufixo -ice já antecipa, é entediante e cheia de complicações. Para começar esse blog, faço questão de citar um trecho do texto de apresentação da Gramática do Português Brasileiro, de Mário A. Perini:

"(...) estudar gramática não leva, nunca levou, ninguém a desenvolver suas habilidades de leitura, escrita ou fala, nem sequer seu conhecimento prático do português padrão escrito. Essas habilidades podem e devem ser adquiridas, mas o caminho não é estudar gramática. Podemos gostar disso, ou podemos não gostar - mas é um fato. Se quisermos manter os estudos gramaticais na escola, temos que descobrir outra justificação para eles, e isso é discutido adiante no capítulo zero. Aqui basta dizer que a gramática é uma disciplina científica, tal como a astronomia, a química, a história ou a geografia; ela deve ser estudada porque é parte da formação científica dos alunos - formação essa que se torna cada dia mais indispensável ao cidadão do século XXI. Esperar do estudo de gramática que leve alguém a ler ou escrever melhor é como esperar do estudo de fisiologia que melhore a digestão das pessoas. E, como evidência bastante clara do que estou dizendo, todos conhecemos pessoas que escrevem, leem ou falam em público muito bem, e que se confessam seriamente ignorantes de gramática.

Por ora, portanto, vamos deixar claro que os estudos de gramática oferecem uma visão da estrutura e do funcionamento da língua, esse maravilhoso mecanismo que, ao permitir a comunicação, possibilita a própria existência da complexa sociedade moderna. A gramática não esgota nem o estudo da língua, nem o da comunicação humana; mas é um ingrediente fundamental dela. Assim como nenhuma sociedade humana prescinde de comunicação, nenhuma existe sem uma língua, e todas as línguas têm gramática." (PERINI, 2010:18)

Apesar de tudo isso, o que vemos nos concursos públicos é, ainda, a cobrança de aspectos de uma gramática tradicional idealizada e problemática, exigindo dos concursandos a memorização maçante de regras e exceções. Mas se essa é a realidade, não podemos ignorá-la se queremos passar em um concurso. Acredito que já esteja acontecendo, ainda que lentamente, uma mudança nessa maneira de abordar a gramática, mas a gramatiquice persiste e, portanto, vamos dar "vida" a esse blog.

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