A pedidos, contarei neste artigo minha saga para ser aprovada nos concursos de analista do TRT e Advogado da União.
Primeiramente, gostaria de ressaltar que não existe concurso fácil, isso é fato, mas meu relato é feito principalmente para aquela parcela de concurseiros que prestam concursos juridicos tidos como mais complicados, por envolverem além de uma prova objetiva, também uma dissertativa (ou três, como foi o caso da AGU) e uma prova oral. Sem dúvida exigem uma preparação que extrapola a resolução de questões objetivas, pois cada fase necessita de um enfoque diferente.
Logo que me formei, tomei a decisão de prestar um dos concursos da AGU, que envolve 3 carreiras (procurador federal, procurador da fazenda nacional e advogado da União). Quando tomei minha decisão, a bendita prova oral não existia em nenhum desses concursos, e os dois últimos realizados (PF e PFN) tinham aprovado, em 2007, umas 1000 pessoas cada um. Aí lá vou eu toda animada estudar. Meses depois fiquei sabendo que a AGU resolveu incluir a prova oral em seu concurso, e dificultar o concurso como nunca tinha feito em sua história: colocou um mínimo por grupos na prova objetiva, o que eliminou muita gente boa, e decidiu que somente 430 pessoas (5x o número de vagas) passariam para a segunda fase (foram 24.000 inscritos). Na fase dissertativa, colocou três provas discursivas e disse que somente 258 (3x o número de vagas) passariam para a fase oral. Passei uma fase de desespero principalmente pela prova oral, porque sempre detestei falar em público, tenho dificuldade, e nunca fui boa em oratória. Poderia ter desistido ali mesmo. Mas resolvi continuar e lutar. Em outro artigo falarei sobre isso.
Primeiramente, fiz um planejamento de estudo a longo prazo. Peguei o edital das 3 carreiras que são mais ou menos parecidos, e eu não sabia qual deles sairia primeiro, e fiz um “editalzão” com todo o conteúdo. Verifiquei que levaria cerca de um ano para esgotá-lo. Em seguida, fui pesquisar bibliografia na internet e achei, principalmente no fórum do Correioweb, indicações de outros concurseiros que já estavam na jornada há mais tempo. Daí montei minha bibliografia, optando por livros mais resumidos e direcionados a concursos para certas matérias, e por outros mais completos para aquelas que são a alma do concurso e, portanto, cobradas de forma mais profunda, em todas as 3 fases. Fui comprando os livros aos poucos. Por essa razão, meu planejamento envolvia o estudo global de uma matéria. Eu só passava para a matéria seguinte quando a anterior tinha sido esgotada. Comecei pelas matérias tidas como “menores”, como financeiro, econômico, previdenciário, ambiental, direito internacional – em minha cabeça, as mais importantes tinham que estar mais frescas no momento da prova. Distribuí as matérias em meses ou semanas, a depender do tamanho de cada uma, por exemplo: dei 1 semana para direito econômico, 1 semana para financeiro, mas 6 semanas para processo civil.
Minha técnica se resumia ao seguinte: eu fazia cursinho pela manhã (o cursinho duraria uns 10 meses) e à tarde estudava seguindo meu planejamento, independente das aulas do cursinho. Dessa forma, garantia que a matéria seria vista pelo menos 2 vezes: uma nos livros e outra nas aulas. Estudava através de metas, não de horas: como eu tenho problema de concentração, perco muito tempo distraída, então horas não significam estudo aproveitado. Pegava o número de páginas do livro e dividia pelo número de dias de estudo (segunda a sexta). Dava, por exemplo, 50 páginas por dia. Lia grifando (com cores diferentes) as partes que achava importantes e possíveis de serem cobradas em prova. Utilizei também associações mnemônicas ridículas que eu inventava na hora, quando precisava decorar alguma coisa que achava impossível. Fazia também desenhos insanos nos livros, tudo que ajudasse a gravar as coisas. Em seguida, finalizada a leitura das páginas, passava para a leitura de lei seca: mesmo esquema, quantidade de páginas do vade mecum relativas à matéria dividida pelos dias. Não lia os artigos correspondentes ao assunto que tinha estudado no dia, no livro, porque é vantagem ver o mesmo assunto em ocasiões diferentes. Isso ajuda a consolidá-lo na cabeça.
Tentava decorar o máximo possível cada artigo, também grifando quase todos com cores diferentes e colocando asteriscos naqueles mais cobráveis (não preciso falar a alegoria que ficou meu vade mecum, né? Dói o olho só de abri-lo... rs). No fim do dia, relia todos os grifos, tanto do livro quanto da lei seca. E também lia os informativos dos últimos dois anos, relativos ao assunto que estudei no dia - isso facilita a compreensão deles. Usei os livrinhos do Roberval Rocha. Também ia grifando as passagens importantes (atualmente tais livrinhos já vêm grifados...). No dia seguinte, antes de começar a ler novas páginas, relia pela terceira vez os grifos do livro e da lei seca do dia anterior. Sim, também tenho o mesmo problema de todos os concurseiros, de esquecer facilmente o que estudei. Por isso que revisar e revisar é a chave. Mais pra frente vou falar como isso me ajudou principalmente na prova objetiva, e me rendeu uma excelente classificação na fase objetiva da AGU (fiquei entre os primeiros).
Os sábados eu reservava para a leitura dos informativos novos do STF e STJ, o que fazia em algumas horas e ficava com o resto do dia livre. No começo, ler tais informativos é realmente maçante, mas juro que com o tempo isso é integrado à sua rotina e você se acostuma com a linguagem e passa até, em alguns casos, a achar interessante. Fazia resumos dos informativos (na verdade cortava e colava as partes importantes e separava por matéria, isso para revisar mais tarde). Aos domingos, revisava o caderno do cursinho da semana, também não me custava mais que algumas horas. Portanto, nos fins-de-semana dava tranquilamente para sair à noite ou até à tarde, se me organizasse.
Segui esse ritmo durante mais ou menos 1 ano. Em novembro de 2008, saiu o edital para advogado da União, e eu tinha praticamente o esgotado.
Quando saiu o edital, adotei nova técnica: a revisão total. Contei os dias que faltavam (inclusive sábados e domingos, foi regime intensivo) até a prova e os dividi para revisar, apenas, os livros, a lei seca, os informativos e as súmulas. Dividi o tempo em dois blocos: Bloco 1 somente para doutrina e Bloco 2 somente para lei seca. Na revisão de doutrina, reli apenas as partes grifadas dos livros. O que eu achava que era importantíssimo e precisava estar na ponta da língua, escrevi em folhas de ofício para reler (de novo) faltando poucos dias para a prova. Na revisão da lei seca, revi praticamente todos os artigos (exceto os que não estavam grifados, por eu não ter achado importantes). Também escrevi em papel ofício todos os números dos artigos que eu achava que tinha que saber de cor e salteado no dia da prova, e também aqueles que eu tinha dificuldade em decorar, pra reler novamente nos últimos dias. Terminado isso, deixei uns 3, 4 dias para reler meus resumos de informativos e as súmulas.
Na penúltima semana, resolvi umas 50 provas do CESPE (peguei tudo pela internet). Na verdade, não resolvi: resolver demanda tempo demais. Eu lia a prova e via imediatamente a resposta no gabarito. Para mim deu o mesmo efeito, ver o que eu não sabia, ver meus erros, e me familiarizar com o tipo de questão do CESPE. E tudo isso em muito menos tempo do que levaria se fosse resolver realmente. Na última semana peguei apenas aqueles papéis ofícios da revisão e reli o que tinha escrito e, finalmente, na véspera e antevéspera, dei uma última olhada nos artigos de lei que eu tinha anotado nos papéis. Isso fez com que eu fosse pra prova com a lei seca fresquíssima na cabeça, o que foi ESSENCIAL para obter uma alta pontuação. Outra dica: releiam (novamente, não é para estudar só uma vez) as leis especiais também na véspera. Dará o mesmo efeito de sedimentar o decoreba na cabeça, e SIM, aquela lei especial exótica que tá no edital VAI cair, todo mundo vai errar e você vai acertar porque releu na véspera. O pensamento de que “não vou estudar isso, não vai cair, tem coisa mais importante para eu estudar agora, é impossível esgotar o edital” não é de concurseiro sério e vencedor.
Consegui, como dito, uma excelente pontuação na primeira fase, seguindo exatamente esta técnica. Daí,vieram as demais fases do concurso, que vou deixar de lado pelo menos por enquanto. Hoje estou aprovada no concurso de Advogado da União, subsídio inicial de R$ 14.500. Tudo indica que chamarão todos os aprovados, e logo.
Como podem ver, levei um ano estudando para apenas um tipo de concurso, com foco total. Claro que o mesmo pode ser feito, por exemplo, por quem almeja carreira de analista de TRT, ou de TRE, ou TRF, já que os os editais são parecidos. O negócio é não ser um concurseiro franco-atirador, que não sabe o que quer, faz tudo o que aparece, e só pega o edital do concurso pra olhar quando ele sai. Quem eu conheço que seguiu esse caminho tá até hoje sem aprovação.
No meio do meu estudo pra AGU fiz um concurso de analista judiciário do TRT apenas por fazer, já que a prova seria em minha cidade, e também consegui passar. Devo ser nomeada na próxima leva. Isso porque o edital da AGU, por sem amplíssimo, abrangia quase todo o edital do TRT. Detalhe: Fui péssima na parte da prova do TRT que não estava no edital da AGU.
Meus colegas a quem eu já expliquei minha técnica brincam dizendo que ela é quase matemática, de tão planejada, porque é tudo anteriormente divididinho, quase robótico. Mas só consigo ter a sensação de que estou alcançando algo se fizer assim, nunca conseguiria me focar se fosse estudar ao Deus dará, meio que na doida. Com tudo dividido, se você cumprir, é muito difícil que dê errado, pois até a prova você vai ter visto o mesmo assunto várias vezes, de formas diferentes – tanto que eu decorei exatamente a localização no livro e no vade mecum e a cor que grifei a maioria dos conteúdos.
Resumo da ópera - Se me perguntassem, hoje, qual o segredo da aprovação, eu diria: dedicação, esforço, foco, planejamento e FÉ.
Babi Gomes é uma concurseria que fez por merecer a vitória!
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